sábado, 15 de setembro de 2012

A Morte não é um problema pra mim, a Vida as vezes sim.‏


A morte não é um problema pra mim isso desde que me entendo por gente e isso começou aos cinco anos de idade. Dai pra frente a Vida era um mistério sim, todos os dias a pequena que eu era cismava como dizem os poetas.
É cismava que um dia entenderia porque as pessoas se desesperam tanto com a morte e vivem a vida
que é mais longa, de forma incoerente e irresponsável.
Era comum  ficar ouvindo e olhando quando os adultos cuspiam falando com a gente criança e apontando
o dedo : -Um dia vou morrer e você vai sentir remorso!
Eu dei de ombros uma vez; viram. Resultado? Apanhei como adulta. Mas meu sacudir de ombros dizia:
Se morrer, não vai saber o que acontecerá por aqui.
Nunca tive dessas coisas de ficar me achando culpada por questões que não sou eu quem controla: a Vida
as vezes controlamos. A Concepção de um novo ser, sim controlamos, basta estar atento. Mas o Morrer?
Realmente nunca perdi tempo pensando como seria minha vida quando alguém que eu amasse fosse embora de vez. 
Ainda hoje minha politica de vida, sim politica, acharam que eu diria filosofia? Nunca.
Minha politica de vida e fazer a minha parte. Ficar junto dos que amo enquanto permitem, pois nem sempre somos bem vindos ou bem queridos.
A vida deixou o corpo do meu irmão Rogério, na última semana. Homem valente. Trabalhador como nosso pai. Sabia ser sofisticado quando necessário. Trabalhava de terno e gravata se necessário fosse. Encarava um computador com elegância. Formou-se em eletrotécnica  e dos bons.  Mas nem por isso deixava de bater uma laje, ser ajudante de pedreiro, pintor ou mesmo carroceiro durante os períodos de greve da companhia de limpeza que assolou SG. Pegava seu carrinho e lá ia defender seus trocados atendendo as madames que nervosas pagavam pra ter o lixo levado.
Esse Moço bonito, era galante como ele só. Conquistador danado! Dono de uma lábia que poucos dominam tão bem. 
Porém cedo, ainda moleque não suportando o espancamento diário da mãe e irmãs; eu já casada não fazia mais parte desse episódio, aprendeu o Moço a se Isolar. 
Não sabia ele que o isolamento é o pior dos companheiros, pois quem o tem;  isolado se distância de si mesmo. Escrevi um texto que falo que 'Nasci sozinha'. Nasci mesmo, não tinha gente pra ajudar minha mãe a parir, mas eu tinha a mim mesma. Durante meus cinquenta anos, apesar de gostar de solidão, procuro estar perto de gente, gente estranha, gente conhecida e especialmente gente que amo e respeito.
Contrario ao que vivo e sinto foi meu irmão foi encontrado em casa, Sozinho e sem Vida. Ficou ali isolado sozinho sem Vida por dias...um , dois , três, quatro...talvez mais não sei.
A morte dele não era desejada, porém aconteceu, é fato, eu também morrerei, porém a ideia dele ter ficado ali sem vida  dias e dias isso me trás e trará sofrimento meu pra sempre. 
Enquanto esteve morando conosco por  mais de seis meses, eu acordava quase todas a noite para olha-lo dormindo. Essa foto exposta é desse tempo... Quarenta anos é pouco tempo pra se viver e  muito tempo para deixar algum ensinamento. A frase que cabe e que me vem à mente é" O ser humano pode viver sem sexo mas nunca sem afeto"
Todos nós cinco irmãos: quatro mulheres e mais um homem, cunhados e cunhadas, todos os sobrinhos e sobrinhas, todos fizemos a nossa parte. Cada um a seu tempo ficou a seu lado. Poucos não entendiam o drama que ele vivia. A maioria sentia na pele e no coração a incapacidade de ajuda-lo mais.
Foi desse  tempo chamado presente, um Homem de Bem, com sua deficiência que a morte não vai atenuar.
A quem ele agrediu e ofendeu, sua morte não vai amenizar. Aos que o achavam um fardo o alivio em fim chegou.
Ahhh...Mas aos que ele fez bem não haverá conforto.
As mulheres que fez feliz na cama, essas serão secretamente suas viúvas, bem como filhos e filhas que nem chegou a saber serem seus; órfãos deixou.
Aos amigos que fez por toda parte, dele jamais se esquecerão. Grande goleiro! (dirão)
Pra nós família a realidade é cruel: nossos pais já partiram, eramos seis irmãos e agora somos apenas cinco, faltará pra sempre um pedaço de nós.
Optei por não me despedir dele em uma caixa, prefiro essa foto que foi de um tempo que sei ele conosco feliz foi.
Por isso reafirmo com convicção que: A morte não é um problema pra mim.
Catia Helena de Oliveira sábado 21:22 de 15 de setembro de 2012